quarta-feira, 21 de maio de 2008

Dilemas do Jornalismo


Primeiro texto do curso de Criatividade e Inovação. Texto de ficção abordando os dilemas que o jornalista enfrenta no dia-a-dia.




Poucas pessoas têm tanta sorte quanto Leandro Constantino, um jovem repórter de um dos jornais mais influentes de São Paulo, e, consequentemente, do Brasil. As matérias praticamente caíam em suas mãos, ou melhor, eram jogadas para ele. Leandro tinha um dom: o de atrair matérias pouco interessantes para cadernos menos interessantes ainda. Entrevistas com jogadores de ping-pong amador, reportagens sobre salões de beleza para animais e sobre o ultimo lançamento do CD daquele cantor de 15 minutos que ninguém conhece mais.

Entretanto, como bom repórter, ele não desistia nunca e estava sempre em busca de uma boa matéria. Pedia ao editor-chefe uma oportunidade para fazer uma reportagem sobre este ou aquele tema polêmico ou uma chance para entrevistar aquele artista que causou estardalhaço ao comentar um certo assunto. Chegava a assinar em conjunto com jornalistas conceituados, porém faltava-lhe algo. Faltava um ‘‘furo’’. Uma primeira página que o colocasse definitivamente como um repórter conhecido e respeitável.

Usando seu faro jornalístico, Leandro apostou em alguns rumores que estavam circulando pelo submundo sobre a ligação entre policiais e compradores de arte roubada. Entrou em contato com esses policiais apresentando-se como um empresário que estava disposto a ajudar no caso do sumiço de obras roubadas. Os policiais entenderam que o ‘‘empresário’’ queria ter acesso ao material roubado. Assim, o convidaram pra uma espécie de leilão onde reuniam os possíveis compradores e um sem-número de peças roubadas de museus e acervos particulares.

Finalmente, Leandro tinha em mãos um material concreto de primeira página para publicar. Porém, ao refletir sobre quem estava presente naquele leilão, percebeu que tinha também uma bomba que poderia desprestigiar algumas figuras importantes, revelar a localização de muitos bandidos foragidos e acabar com sua própria vida e carrieira.

Manhã do dia seguinte: Leandro teve a sua primeira manchete publicada na capa do jornal para o qual trabalhava: O prestígio? Ficou sob o pseudônimo de Ricardo Ferraz.

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