sábado, 14 de junho de 2008

Espiritualidade e Transformação em 68 – Ano das experiências sensoriais




1968 é visto como um marco na mudança do comportamento, da visão de mundo, um ano de subversão e experiências. A força motora dessas mudanças eram os jovens. Estavam prontos para experimentar e conhecer o mundo, quebrar regras. Prova disso foi a redescoberta do Oriente. Querendo novas experiências sensoriais e de auto-conhecimento, os jovens dessa época mergulharam na cultura oriental, no budismo e no zen.

Graças à ida dos Beatles à Índia, em busca dos ensinamentos do guru indiano Maharishi Mahesh Yogi, popularizou-se mais a busca pela meditação. O mestre Maharishi Mahesh já era popular na Índia e vinha divulgando sua doutrina de meditação transcendental desde 1959. No seu caminho, vinha fazendo palestras e por onde passava conquistava discípulos.

Nessas andanças pelo mundo, em 1967 o guru atraiu a atenção de George Harrison, um dos Beatles. Harrison, por sua vez, apresentou Maharishi aos seus colegas de banda, que logo se interessaram pela técnica de meditação que permitiria que atingissem um nível de consciência superior sem recorrer às drogas, como o LSD.

Os Beatles, em 68, partiram para a Índia para praticar meditação. Essa ida do grupo de rock mais influente de todos os tempos fez com que muitos jovens, hippies ou apenas curiosos procurassem com fervor a meditação, o budismo e a cultura oriental. Permaneceram na presença do guru por quase um mês – Ringo Star ficou somente uma semana. Houve um desentendimento entre os Beatles e Maharishi que foi acusado de quebrar seu voto castidade com uma de suas seguidoras. A música ‘‘Sexy Sadie’’ é uma ironia dirigida ao guru indiano que fez com que Lennon deixasse o retiro espiritual.

Não há como negar que a estada dos Beatles na Índia de fato ‘‘abriu’’ suas mentes, pois foi um dos períodos mais criativos do quarteto, em que compuseram quase todas as músicas do disco The Beatles – mais conhecido como Álbum Branco.

A influência que Maharishi Mahesh Yogi teve para a expansão da espiritualidade no Ocidente é inegável, já que era popular entre artistas famosos como Mike Love dos Beach Boys e Mia Farrow, atriz de ‘‘O bebê de Rosemary’’, além dos Rolling Stones. Ele conseguiu tornar a meditação popular e um tema para pesquisa científica. A herança que o ano de 1968 deixou para os ocidentais foi a descoberta de um mundo zen, onde a paz interior pode ser alcançada e pode-se ter uma vida mais pacífica e equilibrada.

Resenha do livro 1968- O ano que não terminou

O ano de 1968 foi um marco na história da sociedade moderna. É sinônimo de protesto, esperança, ação. Esse ano marcou o Brasil e o mundo. Marcou também a vida de quem o vivenciou. Não era possível sair ileso. Os jovens daquela época sentiram tudo à flor da pele.

‘‘1968- O ano que não terminou’’ é escrito por um desses jovens que viveram esse ano intensamente. Zuenir Ventura também participou de passeatas, estava presente nos discursos, militava. Como o próprio título sugere, 1968 não acabou em 31 de dezembro. Até hoje os acontecimentos daquele ano ecoam no comportamento, no jeito de protestar, de sonhar e lutar por uma sociedade melhor.

No livro, os fatos são contados com clareza e rigor histórico, mas nem por isso falta humor ou paixão ao relato. É graças ao fato de o autor ter vivido o ano de 68 que sua narração nos aproxima e faz sentir a época. Conhecemos personalidades como Caetano e Chico Buarque, Gláuber e Goddard, Vladimir Pereira, Franklin Martins e tantos outros que são representativos desse ano.

No Brasil de 68 – que é o foco principal do livro- o Reveillon da casa da Helô é uma prévia do que vai acontecer durante todo o ano: discussões políticas, exageros, pancadaria, comportamentos subversivos. Já em março, a morte do estudante Edson Luís Lima choca o país e é o primeiro sinal de que seria um ano de choque entre estudantes, sociedade e governo. Enfim, o povo faria a sua hora e lutaria. A partir daí, as passeatas estudantis tornaram-se ainda mais comuns e o choque contra a polícia, mais violento. O ponto alto foi a Passeata dos 100 mil, um protesto não só dos estudantes como também da sociedade contra a ditadura e por melhores condições para cada classe que protestava.

Essa liberdade dura pouco e o cerco aperta, culminando na instauração do AI-5, que veio para acabar com os sonhos e as esperanças de um futuro democrático. A utopia acabaria ali? É claro que não. Restou um pouco de 1968 em cada um daqueles que foram à luta e conseguiram mudar pelo menos um pouco o mundo.

'''Ele só queriam mudar o mundo''
Zuenir Ventura

Faces do mesmo texto


Ponto de vista

Textos escritos em 1ª e 3ª pessoas, baseados no conto ‘‘O torcedor’’ de Carlos Drummond de Andrade.

1ªP.

Era dia de decisão de campeonato e eu, desprevenidamente, fui visitar um amigo que morava em um bairro distante de Ipanema. Flamengo versus Atlético Mineiro. Eu, que não torcia por nenhum time, apenas para a seleção, me peguei torcendo pelo Atlético, evitando assim pensar na onda flamenguista que tomaria conta das ruas. Meu amigo e eu não temos carro. Então, se o Flamengo ganhasse, eu teria problemas para voltar para casa.

E não é que, mais uma vez, a lei de Murphy caiu sobre mim? O Flamengo venceu e eu já não encontrava um táxi para me salvar. A solução foi pegar um ônibus lotado de torcedores flamenguistas. Tinha mais bandeiras que gente. A euforia aumentava cada vez mais. Senti como se estivesse dentro do estádio, no campo. Eu era a bola. Jogado, empurrado, pisado.

Ainda bem que ninguém pode ler pensamentos, por que se desconfiassem que eu havia torcido pelo time rival, seria mesmo o meu fim. Mas toda aquela alegria era entorpecente. Viciava. Logo esqueci que era descamisado e me juntei aos flamenguistas que comemoravam a bela vitória. Nem assisti ao jogo. Dancei, pulei, gritei ‘‘Flamengo, Flamengo’’. Uma morena envolveu-me com a bandeira rubro-negra e beijou-me a boca.

Quase desci na Gávea, junto com a animada torcida rubro-negra. Mas lembrei que tinha de trabalhar cedo no outro dia. ‘‘Pessoal, vou me trocar e volto.’’ Desci em Ipanema, já um pouco flamenguista, mas não voltei para a morena enrolada na bandeira nem para a Gávea.

2ªP.

Eváglio saiu aquela tarde para visitar um amigo que morava distante de sua casa em Ipanema. Não era um dia qualquer. Era dia de decisão de campeonato. Se o atlético Mineiro ganhasse, seria menos um problema para Eváglio, já que nem ele nem seu amigo tinham carro. Eváglio queria chegar são e salvo em casa. A torcida flamenguista o assustava.

Para a tristeza de Eváglio, o Flamengo venceu a partida. De fato, o que realmente o irritava eram as torcidas de futebol que atrapalhavam a vida urbana. Não encontrando um taxi, Eváglio não viu saída a não ser tomar um ônibus. Assim que entrou no coletivo, Eváglio viu-se cercado de torcedores do time para o qual não torcido naquele dia.

No ônibus, ninguém percebeu que Eváglio não era flamenguista. Isso não tinha a menor importância. O relevante era a vitória. Era comemorar. O jovem se viu tomado por toda alegria flamenguista e não resistiu: cantou, dançou, enrolou-se na bandeira e beijou a morena ao lado. Tornou-se um torcedor. Até que chegou à Gávea. Ele quase foi levado para uma festa ainda maior, com direito a caipirinha e batucada a noite inteira. Mas preferiu seguir e descer em Ipanema, inventando uma desculpa qualquer. E olha que Eváglio não é flamenguista.

Responsabilidade de informar o fato: dever do jornalista

O principal objetivo do jornalista é informar ao seu público um fato, descrever com verdade e objetividade uma fotografia do ocorrido. O público acredita no que lê, no que ouve e vê, raramente verificando as informações e quase sempre espalhando a notícia, sendo ela verdadeira ou não.

A exemplo do caso ocorrido em uma véspera de Halloween, no início do século passado quando Orson Welles deu início a uma interpretação de ‘‘Guerra dos Mundos’’ no canal CBS de rádio. Ninguém mudou a sintonia do radio para descobrir que era só uma peça teatral. Os ouvintes estavam tão atônitos e crentes no que ouviam que sequer perceberam as dicas que mostravam que aquilo era uma história, não um fato.

É verdade que, como toda boa interpretação, era preciso convencer o público. Trilha sonora, entrevistas com supostos cientistas e testemunhas oculares, as intervenções durante a programação e o tom do apresentador eram feitos para convencer os ouvintes.

A brincadeira termina uma hora depois do início do programa, com a Terra destruída. Silêncio, e então Welles volta dizendo que tudo não passou de uma peça teatral via rádio, e desejando um feliz dia das bruxas.

Não foram poucos os que acreditaram na história da invasão da Terra por marcianos. Milhares de pessoas entraram em pânico, causando congestionamento e confusão.

A credibilidade que o jornalista tem faz com que se acredite nele facilmente. E é certo que o jornalista deve cumprir o seu dever ético de contar o fato, e não pintar um quadro e inventar a realidade ou mentir descaradamente para conseguir uma boa notícia. Manipular a informação favorece um lado, mas prejudica e aliena outros. O jornalista tem a obrigação de abrir os olhos das pessoas e não de prejudicar sua visão.